top of page
composicao-quimica-dia-da-ciencia-mundial-natureza-morta.jpg

Coinfecção de Streptococcus suis e Influenza em suínos na fase de creche

Baeta JVPB¹, Paes GP, Granja MMC¹, Martins TVF¹, Broggio B¹, Dos Santos LF¹, Santos DL¹, Guimarães WV & Santos JL¹

 

¹MICROVET - Microbiologia Veterinária Especial,Viçosa, Minas Gerais - BR. *Autor para correspondência: lucas@microvet.com.br

Palavras-chave: Streptococcus suis; coinfecção; sorotipagem; sorotipo 9.

 

Introdução

A indústria suinícola sofre grandes prejuízos devido a patógenos como o Streptococcus suis, responsável por doenças como meningite, septicemia, pneumonia e morte súbita (1). Diversos sorotipos de S. suis são isolados de suínos com manifestações clínicas variadas e a distribuição destes sorotipos pode variar conforme a região geográfica (5). Atualmente, 29 sorotipos de S. suis são reconhecidos com base em estruturas antigênicas diferentes do polissacarídeo capsular (CPS) que envolve a bactéria (2) Estudos recentes têm apontado que, em situações de coinfecção, a presença de outros patógenos pode agravar o quadro clínico dos animais (4). Nesse sentido, o vírus da Influenza Suína é capaz de causar doença respiratória – que pode ser assintomática ou apresentar sintomas leves a moderados, como rinorreia e tosse – e, quando em coinfecção com S. suis, pode resultar em quadros clínicos mais severos, aumentando a mortalidade e os prejuízos econômicos. Pesquisas in vitro demonstraram que a infecção prévia com Influenza pode aumentar significativamente a adesão e invasão de S. suis em células epiteliais, enquanto modelos in vivo indicam que animais coinfectados apresentam sinais clínicos agravados e maiores cargas virais nos pulmões (2). Diante deste cenário, torna-se essencial investigar a interação entre S. suis e Influenza, a fim de aprimorar estratégias de manejo, prevenção e controle das coinfecções, que representam um desafio emergente na suinocultura.

 

Material e métodos

Amostras de suínos com sintomas clínicos e idade entre 21 e 70 dias, recebidos no laboratório de diagnóstico da Microvet, no período de janeiro de 2019 a março de 2025 foram utilizadas para este estudo. As amostras foram plaqueadas em meios de cultura específicos para isolamento de diferentes patógenos bacterianos. A confirmação da identificação dos isolados foi realizada por espectrofotômetro de massa MALDI-TOF. Mil oitocentos e dezessete amostras (n=1817) de Streptococcus suis foram isoladas. Os isolados de S. suis foram oriundos de três regiões brasileiras (Centro-Oeste, Sul e Sudeste). O DNA das culturas bacterianas de S. suis  foi extraído utilizando o Wizard® Genomic DNA Purification Kit (Promega) e em seguida foi realizada PCR multiplex  para identificação dos sorotipos de Streptococcus suis.

 

Resultados e discussão

Os resultados demonstraram um aumento no número de isolados de Streptococcus suis entre os anos de 2019 e 2025. Foi possível observar também o aumento no números de casos de animais coinfectados com S. suis e Influenza na fase de creche (Figura 1). Das 1817 amostras das quais foram isoladas as cepas de S. suis, 606 também foram positivas para o vírus da Influenza. O período pós-desmame é uma fase crítica no ciclo de produção industrial de suínos, porque o sistema imunológico ainda é imaturo e a retirada do leite da porca e consequente interrupção da ingestão nutritiva de imunoglobulina presente no leite. Na maioria dos animais, S. suis foi isolado predominantemente de amostras de pulmão e cérebro e a maior incidência de casos ocorreu na região Sul do Brasil (n=1312/1817). A sorotipagem dos isolados de  S. suis mostrou a presença predominante de dois  sorotipos, sendo Streptococcus suis sorotipo 9 e 2 os mais prevalentes. Na análise de sorotipagem dos 606 isolados de S. suis em casos de coinfecção com Influenza, vimos predominantemente a presença de Streptococcus suis sorotipo 9.

Conclusões

O presente estudo evidencia o aumento de isolamento de Streptococcus suis sorotipo 9 ao longo dos últimos anos, e uma tendência interessante, e talvez nova, que demonstra a maior incidência de surtos de Streptococcus suis em  coinfecção com Influenza na fase de creche (21-70 dias). A diversidade de cepas de S. suis é um dos principais desafios que dificulta o progresso no desenvolvimento de estratégias adequadas de controle e vigilância epidemiológica da doença. Diferentes sorotipos de Streptococcus suis podem ser isolados de suínos e não existe um preditor único e consistente de possível patogenicidade associada ao sorotipo. No total de amostras isoladas de S. suis,  foi possível identificar 20 sorotipos diferentes ao longo desses sete anos. Fatores ambientais ou outros fatores predisponentes podem influenciar a patogenicidade. A identificação de cepas potencialmente patogênicas e o controle de outros patógenos em coinfecção com S. suis é de extrema importância, bem como os avanços recentes na análise de genoma completo e outras abordagens moleculares que podem ser usadas para vigilância, rastreamento de surtos, gestão preventiva da saúde, tratamento e controle eficazes e desenvolvimento de vacinas autógenas com cepas patogênicas selecionadas. 

 

Referências

  • [1] BORNEMANN, N..N.; MAYER, L.; LACOUTURE, S.; GOTTSCHALK, M.; BAUMS, C.G.; STRUTZBERG-MINDER, K. Invasive Bacterial Infections of the Musculoskeletal and Central Nervous System during Pig Rearing: Detection Frequencies of Different Pathogens and Specific Streptococcus suis Genotypes. Vet. Sci. 2024, 11, 17.

  • [2] HAAS, B.; GRENIER, D. Understanding the virulence of Streptococcus suis: a veterinary, medical, and economic challenge. Medecine et maladies infectieuses, v. 48, n. 3, p. 159-166, 2018. 

  • [3] Iowa State University - Department of Veterinary Diagnostic & Production Animal Medicine. Disponível em https://vetmed.iastate.edu/vdpam/FSVD/swine/index-diseases/edema-disease. Acesso em 06/03/2025.

  • [4] OBRADOVIC, Milan R. et al. Review of the speculative role of co-infections in Streptococcus suis-associated diseases in pigs. Veterinary Research, v. 52, n. 1, p. 49, 2021.

  • [5] OKURA, Masatoshi et al. Current taxonomical situation of Streptococcus suis. Pathogens, v. 5, n. 3, p. 45, 2016.

  • [6] SEGURA, Mariela. Streptococcus suis Research: Progress and Challenges. Pathogens. 2020; 9(9):707.

Tabela 1: Gráfico representativo da porcentagem de animais com isolamento positivo para S. suis e Influenza ao longo dos anos.

​ 

​ 

bottom of page